MOVING CINEMA no DocLisboa: Želimir Žilnik
A associação Os Filhos de Lumière está a desenvolver o projecto Moving Cinema, em parceria com a associação “A Bao A Qu”, na Catalunha, “Meno Avilys”, na Lituânia, Centre for the Moving Image, na Escócia, a Cinemateca Francesa e a Cinemateca Portuguesa… Este projecto é apoiado pela Europa Criativa – Sub-Programa Média e tem como objectivo principal desenvolver a literacia cinematográfica junto das crianças e jovens.
Neste âmbito os jovens vão participar no dia 29 numa das sessões dedicadas por DocLisboa, em colaboração com a Cinemateca Portuguesa, à Želimir Žilnik que irá estar presente e disponível para conversar com o público presente.
As primeiras curtas metragens de Želimir Žilnik são fundadoras do movimento de jovens cineastas Jugoslavos a quem foi dado o nome de Vaga Negra (Black Wave), no final da década de 1960. A esse nome de Vaga Negra, usado pelos seus detractores com uma irónica referência à Nova Vaga francesa, Žilnik responde com o Black Film (Filme Negro), de 1971. Os primeiros quatro filmes, realizados num tempo curto, traçam um retrato pouco abonatório do país, concentrando -se nos mais desfavorecidos, desempregados em The Unemployed, jovens sem rumo em Newsreel, crianças negligenciadas, já em ruptura com a sociedade, em Little Pioneers.
Em June Turmoil, as manifestações de descontentamento dos estudantes adquirem um cariz mais claramente político e crítico do regime Jugoslavo da época. Não obstante, em todos os filmes que aqui descobrimos, Žilnik recusa tratar aqueles que retrata como vítimas, e procura, pelo contrário, mostrar a sua força, a sua energia e a sua inexorável vitalidade. O último filme da sessão, porventura o mais polémico, será talvez aquele que também nos pode trazer mais facilmente a situações que bem conhecemos, como é o caso dos sem -abrigo. Aqui, mais ainda do que o drama dos próprios, a revolta de Žilnik, personagem e realizador, que recusa a inevitabilidade e a indiferença, marca o filme.
Filmes da sessão:
Žurnal o omladini na selu, zimi (Reportagem na Cidade da Juventude, no Inverno)Ano:
1967 Duração:15’
O documentário foi rodado em aldeias, nos arredores de Novi Sad – Bukovac, Krčedin e Futog. A câmara centra-se nos jovens e no seu tempo livre em adegas, bailes, ruas da aldeia e bares. Os protagonistas são homens e mulheres jovens, espirituosos e enérgicos. Divertem-se, mas gostariam de estar noutro sítio qualquer.
Nezaposleni ljudi (O Desempregado)
Ano: 1968 Duração: 13’
O filme apresenta uma série de retratos e situações em que as pessoas se encontravam, após se tornarem redundantes, durante o período de reformas económicas que deveriam estabelecer uma economia de mercado na Jugoslávia. Em entrevistas, as pessoas expressam as suas dúvidas e confusão, pois esperavam que o socialismo lhes trouxesse mais segurança social.
Pioniri maleni mi smo vojska prava, svakog dana ničemo ko zelena trava (Pequenos Pioneiros)
Ano: 1968 Duração: 18’
Crianças socialmente negligenciadas, a tomarem conta de si mesmas, atrevem-se a roubar e a violar a lei. Discutem com pais, que não só não os compreendem, como também não nutrem sentimentos por eles. Em contraponto, vemos um programa de televisão onde o popular actor e apresentador Gula (Dragoljub Milosavljevic) se dirige a crianças felizes e despreocupadas.
Lipanjska Gibanja (Manifestações de Junho)
Ano: 1969 Duração: 10’
O filme documenta manifestações de estudantes, em Belgrado, em Junho de 1968. Žilnik imerge um actor profissional numa situação de vida real: Stevo Žigon declama, em frente a uma imensa multidão, o monólogo de Robespierre extraído de Dantons Tod (A Morte de Danton), de Büchner.
Žilnik passa de observador a participante activo da história, um realizador.
Crni film (Filme Negro)
Ano: 1971 Duração: 14’
Uma noite, Žilnik apanha um grupo de sem-abrigo das ruas de Novi Sad e leva-os para casa. Enquanto eles se divertem, o realizador tenta “resolver o problema dos sem-abrigo”, levando com ele uma câmara de filmar como testemunha. Fala com assistentes sociais e pessoas comuns e até interpela polícias. Todos fecham os olhos perante o “problema”.